segunda-feira, 29 de junho de 2009

Bar também é cultura!


Os bares morrem numa quarta-feira
Paulo Mendes Campos


Um amigo de Kafka conta que este arquitetava o seguinte: um homem desejando criar uma reunião em que as pessoas aparecessem sem ser convidadas. As pessoas poderiam se ver ou conversar sem se conhecerem. Cada uma faria o que lhe aprouvesse sem chatear o próximo. Ninguém se oporia à entrada ou à saída de ninguém. Não havendo propriamente convidados, não se criariam obrigações especiais para com o anfitrião. E o espinho da solidão doeria mais ou menos.

É possível que Kafka não haja escrito esta alegoria por ter percebido que a mesma já existia corporificada sob a forma de cafés, restaurantes e bares. Mas o episódio pode levar-nos a considerar com súbita estranheza o mil vezes conhecido: os bares já eram kafkianos quando surgiram no mundo. Ou este, o mundo, é que foi o primeiro bar, quando se encontraram num jardim duas criaturas desconhecidas, e a mulher, buscando comunicação, ofereceu ao homem uma fruta. Foi o primeiro ponto de encontro. E não durou muito.

Pois os bares nascem, vivem, parecem eternos a um determinado momento, e morrem. Morrem numa quarta-feira, como diria Mário de Andrade. [...]

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